Além de apaixonado pelo tema trânsito, também somos apaixonados pelo motociclismo.
Durante muitos anos, possuir uma motocicleta de média ou grande cilindrada ocupava o lugar de destaque entre nossas preferências em veículos motorizados.
Nessa esteira, por alguns anos, era comum aos finais de semana, feriados, período de férias, pegar a motocicleta, chamar a Alec e partir para algum destino na região, ir para Santa Catarina ou outras localidades em grupos.
Foram ocasiões memoráveis vários desses passeios, a primeira vez que partimos rumo à Santa Catarina em duas rodas, com direito a uma visita na famosa Serra do Rio do Rastro, entre Bom Jardim da Serra e Lauro Muller, transitar na Interpraias, fazer um bate-volta até Curitiba/PR, Caconde/SP com os amigos também figuram entre os passeios que guardamos na memória.
Quando o destino não era longo, a ida até Tatuí, São Roque para um almoço já valia a pena, estar com minha Amada e com nossa motocicleta.
Por conta disso, ficamos chocados com o infeliz evento ocorrido na BR-101 em Santa Catarina, no trecho que bem conhecemos, entre Penha e Itapema, cidades localizadas no litoral do belo Estado.
Um casal, que assim como nós, um dia sonhou ter uma motocicleta para passear aos finais de semana, tem seu sonho, e a vida da passageira, interrompidos pela atitude impensada de um condutor de caminhão que literalmente levou no peito a motocicleta com seus ocupantes, e só parou quando as condições de fuga não forma mais possíveis.
Um passeio que deveria ter um final feliz, acabou em tragédia na rodovia. Imagem: captura internet
Alegou na ocasião que transitava a 28 horas e que tinha feito uso de substâncias proibidas para se manter acordado.
Não somos nós que vamos julgar ou apontar o dedo para alguém diante de tal fato, mas nos compete fazer uma reflexão a respeito do tema, visto que não é o primeiro e nem será o último evento dessa natureza a ser registrado em nossas vias, talvez o diferencial desse seja o fato da motocicleta ter ficado presa no caminhão, mas os relatos de outros casos em que os caminhões passam levando o que tem pela frente, 3, 5 10 veículos, não são tão difíceis de serem registrados.
Há no país uma lei que determina que todo condutor de veículos que possuem categorias C, D ou E, devem passar por um exame toxicológico para renovar sua Carteira Nacional de Habilitação - CNH.
Com as alterações no Código de Trânsito Brasileiro - CTB em abril, a obrigação de passar por esse teste deve ser a cada dois anos e meio para tais condutores.
A despeito da regra, e de sua eficácia ser contestada por entidades médicas e de toxicologia, está mantida a obrigação, ainda que no projeto de lei de autoria do Executivo houvesse a previsão de retirar esse exame do ordenamento pátrio.
A bem da verdade, esse tema era um dos poucos com os quais concordávamos na apresentação do PL 3267/2019, posteriormente convertido na lei número 14.071/2020.
A razão disso é que após 13 anos rodando com relativa frequencia o trajeto Sorocaba/SP - Itajaí/SC, na maior parte durante a noite e madrugada, nos deparamos com comportamentos tais de uma parcela dos condutores de veículos de grande porte que nos causa espanto e em alguns casos, medo.
No último deslocamento realizado até SC no dia 19/FEV/2021, durante o final da madrugada, já no início da manhã, uma densa neblina encobria parte da rodovia que leva Sorocaba até o Município de São Miguel Arcanjo, cuja denominação nos foge agora.
Quando estávamos no trecho entre Pilar do Sul e São Miguel Arcanjo, em uma rodovia de pista simples, com alguns buracos na pista, sem acostamento decente e com velocidade máxima regulamentada em 80Km/h, em meio a ela surgiu um caminhão Mercedes Benz, vermelho, do tipo "bicudo" e passou por nós a toda velocidade na contramão, em local cuja ultrapassagem era proibida.
Da forma como ele do nada surgiu, também sumiu em meio aquela densa neblina o que nos fez temer o pior, visto que tal rodovia é utilizada por pessoas que vivem na zona rural para ir ao trabalho, aguardar o transporte coletivo.
Nosso veículo estavam em velocidade abaixo da permitida, com a prudência necessária para aquelas condições de pista e clima e o caminhão passou como se estivéssemos parados e desapareceu. Caso uma outro veículo ou pessoa surgisse na sua frente, provavelmente não sobraria muito para contar história.
Esse é apenas um dos vários relatos que podemos citar de nossas incursões rodoviárias, mas que ganham vulto a medida que pelo porte dos veículos os estragos sempre são grandes, além de quase sempre bloquearem as pistas para os demais veículos.
O fato é que esse exemplo é um, dos que mostram que fiscalizar o comportamento dos condutores dos brutos em relação ao seu estado de consciência no tocante ao uso de substâncias proibidas somente em laboratórios não surte efeitos na segurança viária.
É preciso sim que outras formas de fiscalização venham a ser realizadas, para a segurança deles e dos demais condutores, assim como aproveitar a ocasião para avaliar se o direito ao descanso vem sendo cumprido.
Nenhuma carga é valiosa o bastante a ponto do condutor ter de se arriscar a pagar com a vida, ou dos demais, os excessos para cumprir prazos apertados com fretes baixos que praticamente só mantem a operação sem ganhos reais para o condutor.
Também é preciso que sejam disponibilizados nas rodovias, locais para que os condutores possam realizar seu descanso com segurança, algo previsto em legislação, mas pouco colocado em prática.
Nos causa perplexidade visualizar na BR-376, por exemplo, no Estado do Paraná, um local que era um posto fiscal, que possuía uma estrutura mínima de banheiros, salas, ser colocado todo abaixo e que poderia ser destinado para o descanso, alimentação dos condutores de veículos pesados ou em longos deslocamentos interestaduais.
A ausência desses pontos leva aqueles que não tem recursos disponíveis para estacionar o veículo em um pátio de postos de combustíveis, alguns dos quais que cobram o abastecimento mínimo de R$ 100,00 ou o pagamento dessa importância para que os condutores estacionem, a transitar por horas a fio ou a recorrer às substâncias proibidas.
Nesse momento em que se fala tanto em "rodovias que perdoam", em atenção "especial aos amigos do trecho", o desejável é que se tenham também ações nesse sentido, como forma de reconhecimento, respeito aos serviços executados pelos caminhoneiros pelo país afora.
Do contrário, eventos como o aqui relatado e vários outros pelo país afora, mostrados em páginas nas redes sociais, voltarão a acontecer.
No caso do sinistro ocorrido em Santa Catarina no sábado, que nos motivou a escrever esta postagem, infelizmente a esposa do motociclista veio a óbito no domingo, não resistindo as lesões graves sofridas, razão pela qual destinamos nossa solidariedade e orações.
Para esse casal, que certamente ao se levantar de sua cama no sábado imaginou passar momentos felizes com sua motocicleta nas rodovias, restou a dor da partida e o trauma de algo que poderia ser evitado.